O lintel, talvez padieira, actual consola
​
O homem que a talhou certamente desconhecia o termo lintel, talvez lhe chamasse padieira ou outra coisa qualquer. Em madeira de castanheiro, toscamente aparelhado em dois lados de um tronco, fez parte de uma construção rústica de xisto, a sua função consistia em suportar o peso da estrutura sobre o vão da porta.
A construção seria um moinho de água, um palheiro ou uma corte, situada numa encosta declivosa. Funcionou enquanto o sistema agro-silvo-pastoril da economia serrana funcionou. Depois foi o abandono, o fogo lambeu as paredes várias vezes, caiu a cobertura. O vão da porta foi o último a cair. Não se sabe quanto tempo terá aí ficado, provavelmente apenas alguns anos, pois a madeira não estava apodrecida. Uma grande enxurrada empurrou-a para o leito de uma ribeira; rolou sobre pedras, caiu em cachões, até encalhar algures.
​
Era verão, olhámos para ela e vimos um náufrago esquecido muito acima do nível das águas. Acercámo-nos, não estava morta, descobrimos-lhe uma nova função…