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O eucalipto que tinha vocação para móvel
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Sabia que carpinteiros e marceneiros não gostavam deles, pois diziam que rachavam, torciam e empinavam. Quando o foram buscar ao viveiro estava convencido que iria ter o destino de todos os outros. Seria plantado juntinho a centenas ou milhares, formando uma floresta estéril e inóspita onde os animais raramente entrariam, e onde ninguém iria passear. 

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Depois, passados poucos anos, as máquinas entrariam e seria cortado exactamente com a mesma medida de todos os outros, empilhado e enviado para uma fábrica, onde seria triturado e transformado em pasta de papel. Queria outra coisa para ele. Afinal era uma árvore!

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Foi plantado isolado e aí teve outra expectativa de vida. Cresceu, cresceu, deu boa sombra no Verão, abrigo da chuva nos temporais; muitas aves nele construíram os seus ninhos, primeiro pequenos chamarizes e pintassilgos, depois até mesmo um casal de cegonhas. Havia ainda quem fosse colher as suas folhas e frutos para infusões…

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Por isso um dia, quando ouviu a motosserra não teve medo, não se lamentou de nada. Sabia que iria continuar a viver de outro modo, como sempre havia desejado e que afinal havia carpinteiros e marceneiros que gostavam de eucaliptos. Deu muitas pranchas. Com a que nos coube fizemos uma mesa e um banco, com base em ferro oxidado. Todos ficámos satisfeitos, eucalipto, carpinteiro e clientes!

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