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Os quatro irmãos (ou o elogio dos rústicos) …
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Eram quatro irmãos, viviam na mesma casa mas eram, dois a dois, filhos de dois pais diferentes. Entendiam-se bem. Envelheceram com a casa, viram partir uns, que nos últimos tempos e na tentativa de afastar o frio, os levavam para o exterior para se sentarem a gozar um pouco do sol algarvio de inverno. Viram chegar outros, que fizeram deles cavalos e os utilizaram como meio de chegar a prateleiras proibidas. 

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Até que ninguém mais veio e ficaram envoltos por penumbra e pó. Resignaram-se e ficaram à espera do fim… E foi assim que nos aparecerem, pela mão dos herdeiros da casa, que neles terão cavalgado. Vinham envergonhados da sua rusticidade, duvidando que houvesse lugar para eles na remodelação da velha casa, acharam que nunca se iriam adaptar. 

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Um deles vinha já condenado ao lixo. Olhámos bem e concluímos que não podiam ser separados. Decidimos recuperar os quatro! Corte de uma perna aqui, acrescento acolá, betume em todo o lado, lixa, lixa e mais lixa. Primário e tinta (deixamos de contar o número de demãos a partir da terceira!). Ganharam a cor da nova cozinha. Gostaram pois era a cor do vinho de Lagoa!

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Regressaram à casa, estava bastante diferente, mas voltou a ser branca, da alvura que apenas as casas caiadas têm, e pelas janelas entra ainda o som do canto dos papa-figos e dos rouxinóis.

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