top of page
Duas árvores (Citrus sinensis e Cryptomeria japónica); um arquipélago…
​

Nascido de vulcões, bem no meio do oceano, cujas ilhas, dizem, são os vestígios da Atlântida – o continente perdido; a história do arquipélago dos Açores podia começar assim, por um mito ou lenda. E as laranjas? E a Cryptomeria? Que relações têm com isto? Toda, pois fazem também parte do imaginário das ilhas!

​

As laranjas porque, talvez com algum exagero, foram assim descritas no Gardener’s Chronicle de 24 de Outubro de 1874: “Há muito que se sabe que os Açores produzem a melhor laranja do mundo. […] Estas ilhas distam de nós poucos dias de viagem a vapor, e com quanto pertenção a Portugal podem considerar-se como um dos principaes pomares da Gran- Bretanha.” (tradução apresentada no “O Cultivador” n.º 28, 15 Dezembro 1874, p. 652).

​

A Cryptomeria japonica porque, apesar de agora parecer por lá ter sempre existido; conjugando-se bem com as brumas e atmosfera permanentemente húmida ter, em boa verdade, sido importada do Japão para, segundo alguns, produzir madeira para as caixas de exportação das laranjas. Talvez não tenha sido exactamente assim, talvez os primeiros exemplares tenham chegado apenas com fins ornamentais, destinados à colecção particular de José do Canto, ele próprio agricultor e exportador de laranjas que terá visto posteriormente as excelentes características do material lenhoso, particularmente leve e de crescimento rápido.

​

Certo é que actualmente a criptoméria ou cedro-do-Japão, é a espécie florestal mais cultivada nos Açores, cuja principal característica é a madeira ser inusitadamente leve, constituindo sempre um surpresa para quem pega num pedaço, pois aos seus 360kg / m3, opõem-se 500kg /m3 do pinho, ou os 675kg /m3 do carvalho, citando madeiras que todos conhecem.

​

No Japão além da ampla utilização em mobiliário e construção, neste último caso sendo frequentemente tratada com fogo através da ancestral técnica nipónica do shou sugi ban, possui também um forte simbolismo, sendo os milenares exemplares do Parque Nacional Yakushima objecto de uma veneração nacional.

​

A Inês G. tem raízes açorianas, mais propriamente do Nordeste (S. Miguel) e sempre quis ter uma mesa de criptoméria. Numa serração local escolheu 2 belíssimas pranchas com cerca de 7cm de espessura, como base optou por ferro pintado de secção quadrangular (2X2cms). Só tivemos de tratar a madeira e dar-lhe um pouco de coloração para que os veios ainda sobressaíssem mais. Deu uma mesa de refeições e trabalho, uma mesa de apoio, e um banco comprido. Agora está algures em Alvalade, e a Inês tem mais um pedaço das ilhas na sua casa.

bottom of page