top of page
O Auto da Porta
​

A rua chama-se Gil Vicente, a personagem principal é uma porta, dois carpinteiros, os habitantes da casa, vários (muitos) transeuntes, ah é verdade, e também um cão (o Charly do primeiro andar).

​

O primeiro acto é um longo monólogo da porta acerca da sua vida centenária, do que presenciou, das suas muitas maleitas e, sobretudo dos rumores que tinha ouvido recentemente acerca da sua substituição por uma porta de alumínio. Passam pela cena também alguns transeuntes que comentam o estado a que a porta chegou.

​

O segundo acto é uma reunião de condóminos em que se debate o futuro da porta, e onde após uma acesa discussão prevalece a decisão de efectuar o restauro da mesma.

​

No terceiro e último acto, entram os dois carpinteiros que iniciam o trabalho sob o olhar atento dos habitantes do prédio. Há transeuntes permanentemente a entrar e a sair de cena, há os incrédulos, há os apoiantes incondicionais da recuperação, há os que acham que é uma oportunidade para fazer uma porta mais pequena, há um engenheiro que diz que já ninguém valoriza estes trabalhos, há um filósofo de bairro que diz que a “verdadeira dimensão do Homem vê-se é no Trabalho”… A recuperação avança, a porta não cabe em si de contente; acha-se ainda melhor que 100 anos antes. Os carpinteiros retiram-se, os transeuntes continuam a passar, mas agora detêm-se junto à porta, alguns passam mesmo suavemente as mãos por ela. O Charly também ficou contente, acabaram as marteladas, poeirada e cheiro a tintas…

bottom of page