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O trauma das mesas-de-cabeceira
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Em boa verdade nunca gostámos de mesas-de-cabeceira. A embirração vem da infância, de casas velhas, onde o compartimento de baixo das mesas-de-cabeceira, invariavelmente possuía uma porta, atrás da qual invariavelmente existia um penico (normalmente de esmalte) e um intenso cheiro a potassa que atestava o seu asseio.

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Um belo dia apareceram estas duas na oficina, tinham um certo ar Deco, e a terem albergado penicos certamente que foram de faiança ou, quem sabe, mesmo de porcelana. Eram em nogueira (antes isso) e foi com uma certa relutância que aceitámos o trabalho, que logo nos arrependemos, pois – uma desgraça nunca vem só – estavam intensamente atacadas por bichos da madeira, os quais não tiveram nenhum tipo de parti pris contra estas peças.

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Traiçoeiros, atacaram o interior deixando poucos orifícios à superfície, mas com uma intricada rede de galerias, que certamente lhes permitia ir do tampo à base, com possibilidades de chegar simultaneamente aos lados.

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Houve partes que tiveram de ser parcialmente removidas, fazendo-se depois enxertos com madeira sã (felizmente tínhamos alguma nogueira de reserva). Estávamos tão cansados delas que terminámos sem lhes fazer a foto final, mas em boa verdade não estávamos também particularmente orgulhosos do trabalho…

Bom é que a cliente gostou e enviou-nos uma foto in situ. Não chegou para dissipar o trauma. Continuaremos a evitar mesas-de-cabeceira…

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